Descrição
Trinta dias de duro trabalho braçal, roço de juquira, limpa de pé de cerca, cuidar de animal. Com trinta dias já não éramos mais os mesmos, nem na aparência e nem na quantidade. Não, ninguém foi demitido. Escravo não é demitido. Escravo é morto. Em uma dessas tardes escuras de nuvens amareladas os jagunços levaram o rapaz. Tiros. Silencio. Nunca mais voltou.
“Patrão! Preciso mandar dinheiro pra minha família, a mulher ficou em casa sem nada”. Cobrei. Alguns risos de xingamentos, olhares de ofensas, e o aviso de que só depois de 90 dias trabalhados é que veríamos algum dinheiro. Aquilo me subiu labaredas de ódio. Murmurei aos companheiros que fugiríamos, eles consideraram loucura, eu, a única saída. Falavam dos jagunços. “Não tenho medo de homem e aqui não fico mais”. Avisei. “Quem vai, v’ambora”.
Este livro foi escrito a partir de depoimentos de trabalhadores/as resgatados/as do trabalho escravo. Todos os contos são fatos reais. Abusos sexuais, extrema exploração, assassinatos e todos os tipos de maus-tratos é a realidade de um país que nunca aboliu a escravidão.
Francisco Antônio Cruz, conhecido como Xico Cruz, nasceu na cidade de Canindé no Ceará, mas veio para a cidade de Açailândia no Maranhão com apenas um ano de idade. Xico Cruz é ator, brincante da cultura popular, dramaturgo, poeta e formado em licenciatura em História. Atualmente é voluntário do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascarán, Organização Não Governamental sem fins lucrativa que atua de forma efetiva há mais de vinte anos em Defesa da Vida e dos Direitos Humanos, com atenção privilegiada às pessoas mais pobres, exploradas e oprimidas.
Xico Cruz é autor dos livros de poesias “Há Culpa nos Olhos” e “A Vida é uma Rua do Casqueiro”.
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